O Trans, O Protesto, O teatro e mil e uma nuances

 Sobre a polémica do transexual que invadiu o teatro reivindicando um papel de actor na peça que estava em cena, partindo do principio que este papel deveria ser representado por pessoas trans , venho dar a minha contribuição alongando a coisa porque a discussão bipolar é redentora.

Qualquer protesto que não incomode, é um comunicado inofensivo e passivo.

Que melhor lugar para fazer uma reivindicação socio cultura que numa casa de cultura, neste caso um teatro ?

Existem várias linhas que podemos seguir quando trabalhamos em representação com pessoas.
A maioria tem dito que o trans não tem razão mas não é bem assim
Da escola de onde venho RAD London , usa-se a subtileza para representar , tudo será fluido e nunca pode ser revelado o esforço/técnica que está subadjacente . É uma das linhas da escola inglesa . No entanto a escola russa é bem diferente. A representação do papel ( ficção) mantém-se mas aproveita-se a execução técnica dramatizando-a e com isso obtendo mais fluxo emocional do espectador.
Se fosse assim só subtileza, porque o fabuloso Christian Bale perdeu e ganhou dezenas de kilos para melhor representar papeis no cinema?
Nós vemos dezenas de exemplos neste sentido . Começamos a ver uma coreografia e dizemos é Maurice Béjart independentemente da temática da peça . Ou olhamos para uma pintura com um fundo negro um jogo de luzes e sombras e um tom sensual amarelado e dizemos, é Caravaggio.
Andrzej Żuławski esse realizador fantástico que sacou o melhor da divina Romy Schneider no filme L'IMPORTANT C'EST D'AIMER porque escolheu a actriz cuja vida e fantasmas andariam perto do drama que ele pretendia criar no filme. No fundo nós não saímos de nós mesmo e podemos mesmo assim representar. Somos tanto e tanto temos escondido, que quem sabe quando somos sublimes não serão as nossas sombras que subiram à ribalta.
A vida é um mistério com várias formas e claridades , não somos simples nem somos só bipolares , preto e branco frio e quente.